Tem circulado nas redes sociais a alegação de que Angola seria o único país onde os médicos cubanos recebem salários mensais líquidos de 5.000 dólares, colocando o país como o maior pagador directo a estes profissionais estrangeiros.
As mensagens têm surgido sobretudo no contexto da publicação do Despacho Presidencial n.º 144/25, que autoriza a contratação simplificada de 1.102 médicos cubanos, com um valor global de 71 milhões de euros (cerca de Kz 73,3 mil milhões), com o objectivo de reforçar o Sistema Nacional de Saúde. No entanto, as alegações relativas aos salários líquidos recebidos pelos médicos cubanos em Angola são falsas.
O que verificámos?
O Verifica.ao analisou as alegações em circulação, consultou dados de organizações internacionais, relatórios sobre missões médicas cubanas e fontes independentes que estudam a política externa de Cuba em matéria de saúde.
De facto, o Governo angolano paga entre 5.000 e 7.000 dólares por médico cubano/mês. No entanto, a maior parte desse valor não é entregue directamente ao médico.
Os profissionais são contratados através da empresa estatal cubana Antex, subordinada ao Grupo de Administração Empresarial das Forças Armadas (GAESA), que retém entre 76 % e 91 % do valor pago por Angola.
Isto significa que os médicos cubanos recebem apenas entre 500 e 1.200 dólares por mês, com uma média real de cerca de 750 dólares mensais.
Comparação com outros países
Angola não é o país onde os médicos cubanos recebem os salários líquidos mais altos. Diversos exemplos confirmam isso:
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Arábia Saudita, Timor-Leste e Eritreia: valores líquidos de até 1.089 dólares por médico/mês;
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Brasil (programa Mais Médicos, 2013): cerca de 846 dólares líquidos/mês por profissional;
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Qatar: embora o país pague entre 5.000 a 10.000 dólares por médico, os salários líquidos continuam limitados, seguindo o mesmo modelo de retenção de rendimentos;
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Quénia: o governo pagava 5.300 dólares por médico, mas apenas cerca de 10% desse montante era recebido pelo médico.
Portanto, embora Angola pague valores elevados à estrutura estatal cubana, isso não se traduz em salários mais altos para os médicos.
Condições actuais em Angola
Desde Fevereiro de 2025, há relatos de redução nos subsídios locais, que passaram de 200 para 100 dólares, agravando ainda mais a situação dos médicos cubanos em território angolano.
Além disso, vários profissionais relatam atrasos nos pagamentos e dificuldades em receber valores acordados para despesas básicas, o que comprova que, mesmo num contrato de alto valor, as condições dos médicos continuam longe do ideal.
Conclusão
FALSO – Angola não é o país onde os médicos cubanos recebem os salários líquidos mais elevados. Apesar dos montantes pagos pelo governo angolano à estrutura estatal cubana, os profissionais de saúde recebem uma fração desse valor, comparável (ou até inferior) à de países como Brasil, Arábia Saudita ou Qatar.
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