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Adriano Sapiñala: “MPLA não tinha generais antes das negociações dos Acordos de Alvor”

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Nos últimos dias, reacendeu-se nas redes sociais um debate sobre a existência de generais nas fileiras do MPLA antes de 1990, após as declarações do deputado Adriano Sapiñala, secretário provincial da UNITA em Luanda.

Durante a sua intervenção num debate promovido pela plataforma XAA, Sapiñala afirmou que, antes das negociações dos Acordos de Alvor, o então braço armado do MPLA não possuía oficiais com a patente de general.

A equipa do Verifica.ao investigou e concluiu que a informação é falsa.

As FAPLA tinham generais e um quadro de patentes estruturado desde os anos 1970

As Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), braço armado do MPLA antes da criação das Forças Armadas Angolanas (FAA), possuíam generais e oficiais superiores muito antes de 1990.

Fontes académicas, documentos militares históricos e registos internacionais confirmam que, entre 1975 e 1988, as FAPLA já dispunham de um sistema de patentes estruturado, incluindo General, Tenente-General, Major-General, Coronel e Major, entre outras graduações.

Fontes académicas e oficiais confirmam

Um dos principais documentos de referência é o “Area Handbook for Angola: A Country Study, produzido pela Library of Congress / Federal Research Division dos Estados Unidos, com pesquisa concluída em Dezembro de 1988.

O estudo descreve com detalhe a estrutura organizacional e hierárquica das FAPLA (pag. 228), referindo explicitamente a existência de generais e chefias de Estado-Maior com patentes militares equivalentes às utilizadas em forças armadas regulares.

Além disso, análises militares e publicações internacionais (como relatórios diplomáticos, artigos da época e registos de imprensa) fazem referência a oficiais das FAPLA identificados como “Generais”, como é o caso de António dos Santos França (“Ndalu”), mencionado em múltiplas fontes entre as décadas de 1970 e 1980.

Quadro histórico de patentes (1975–1992)

Compilações documentais e estudos sobre insígnias militares mostram que o quadro de patentes das FAPLA, entre 1975 e 1992, incluía:

  • Oficiais Generais: General, Tenente-General, Major-General, Coronel-General

  • Oficiais Superiores: Coronel, Tenente-Coronel, Major

  • Oficiais Subalternos: Capitão, Tenente, Alferes

Ou seja, a patente de General fazia parte da estrutura militar muito antes das reformas dos anos 1990.

Contexto das reformas e da confusão pública

Após os Acordos de Bicesse (1991) e a integração das forças armadas rivais na nova estrutura unificada (FAA), houve mudanças nas designações e hierarquias militares.

Essa reestruturação pode ter gerado confusão pública sobre o momento exacto em que as patentes de general foram formalmente integradas no Exército Nacional, levando alguns cidadãos a acreditar, de forma errada, que essas graduações só surgiram após 1990.

Contudo, os registos históricos, académicos e institucionais confirmam que as FAPLA já possuíam generais e um sistema hierárquico plenamente funcional antes dessa data.

Conclusão: FALSA

A afirmação do deputado Adriano Sapiñala de que NÃO existiam generais nas fileiras do MPLA antes de 1990 é falsa.

As FAPLA tinham um quadro hierárquico militar completo, com patentes de General, Coronel e Major, conforme comprovam fontes académicas, documentos oficiais e registos históricos.

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Num ambiente em que o debate político e histórico é facilmente distorcido nas redes sociais, é essencial verificar as fontes antes de partilhar qualquer conteúdo.

Siga o Verifica.ao e contribua para uma sociedade mais informada, crítica e responsável.

Outras Fontes Consultadas

People’s Armed Forces for the Liberation of Angola (FAPLA) — sumário histórico e lideranças (Compilação com referências históricas).

Military ranks of Angola — secção “Historical rank insignia (1975–1992)” (lista/insígnias históricas indicando generais, coronéis, majors etc.).

Angola: a country study (Library of Congress / Federal Research Division, pesquisa concluída Dez 1988) — Análise detalhada das Forças Armadas (FAPLA) e sua organização ao fim dos anos 80.

Artigos/relatórios e bases de dados de segurança que citam oficiais FAPLA com patente de General nos anos 80 (e.g. Country-data / GlobalSecurity; documentação FBIS citada em análises académicas).

Wilson Center / documentos diplomáticos e memorandos (citando António dos Santos França como Chefe do Estado-Maior / “General Ndalu”).

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